Forró com Respeito: Quando a Alegria do São João Também Ensina a Dizer “Não”

Forró com Respeito: Quando a Alegria do São João Também Ensina a Dizer “Não”

Forró com Respeito: Quando a Alegria do São João Também Ensina a Dizer “Não”
Forró com Respeito: Quando a Alegria do São João Também Ensina a Dizer “Não” (Foto: Reprodução)

Nas noites quentes de junho, as ruas da Bahia se enchem de cores, sorrisos e o som do forró ecoando pelos quatro cantos. O São João pulsa no coração do povo. Mas no meio do riso e da festa, há uma nova melodia ecoando com força: o respeito.

Ao lado da zabumba, do milho assado e das bandeirolas, surgem campanhas que não apenas colorem os festejos, mas transformam consciências. Iniciativas como “Oxe, Me Respeite!” e “Não é Não também no São João” estão reescrevendo a cultura junina com tintas de coragem, dignidade e empatia.

Essas campanhas, lideradas por órgãos como a Secretaria das Mulheres da Bahia (SPM) e a Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres (SPMJ), vão além de cartazes. Elas capacitam trabalhadores, distribuem informação, empoderam mulheres e — talvez o mais importante — educam homens para que parem de confundir liberdade com licença para violentar.

A professora Vânia Oliveira, com a sensibilidade de quem dança a história do nosso povo, afirma: “Nosso corpo é nosso. Ele não te pertence. Dizer ‘não’ é nosso direito.”

Silvia Cristina Pires Bispo, artista e locutora, ecoa a dor de muitas: “Vivemos em uma sociedade que ainda acredita que mulher em festa é mulher à disposição. Não é. Nunca foi.”

Campanhas como essas não se limitam aos palcos ou telões. Elas se tornam escudo para quem, por séculos, só teve o corpo como alvo. Elas ensinam que o toque sem consentimento não é carinho — é crime. E que “tava bêbado” nunca foi desculpa, é agravante.

A dançarina Dalva Ângela, com a sabedoria de quem aprendeu a resistir dançando, diz: “Não importa a roupa. O problema nunca foi a mulher. O problema sempre foi o olhar do homem.”

E é por isso que o São João deste ano tem algo a mais do que sanfona e canjica: ele tem consciência. Ele tem acolhimento. Ele tem postos de apoio, redes de proteção e canais de denúncia — como o 180, o 181, e as DEAMs — funcionando com mais visibilidade e presença.

Porque dançar de mãos dadas só é bonito quando ambas querem. E beijo bom é aquele que nasce do desejo mútuo, não da invasão.

O verdadeiro forró é feito de sintonia, não de silêncio diante do assédio.

“Se a sua alegria precisa violar o espaço de alguém, então não é festa, é violência disfarçada de tradição. Que neste São João, o respeito seja a principal atração.”

Compartilhe. Reflita. Ensine. Porque o corpo da mulher não é território de festa alheia, é território sagrado de escolha.

Foto: Internet

Por Nilson Carvalho — Jornalista, artista plástico e embaixador dos direitos humanos

 

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