Festejos Juninos na Bahia: Quando a Tradição Abraça a Inclusão e a Resistência Cultural
Festejos Juninos na Bahia: Quando a Tradição Abraça a Inclusão e a Resistência Cultural

Redação Grupo Papo de Artista Bahia
Em uma Bahia costurada de ritmos, cores e fé, o São João de 2025 já mostra que o forró não toca apenas para entreter — ele pulsa como símbolo de identidade, resistência e, agora, de inclusão e acessibilidade.
O fim de semana das homenagens a Santo Antônio revelou mais do que apenas palhoças animadas e multidões dançantes. Revelou um movimento silencioso e poderoso de resgate e dignidade, especialmente para aqueles que por muito tempo foram esquecidos: as pessoas com deficiência, os pequenos agricultores, os trabalhadores da economia solidária e os artistas da cultura popular.
Na capital, o Forró da Inclusão, realizado na sede da Associação Baiana dos Deficientes Físicos (Abadef-BA), foi mais que um evento junino: foi um manifesto humano. Música, quadrilha, comidas típicas e uma exposição fotográfica sobre turismo inclusivo deram o tom de um São João que não exclui, que acolhe, que dá espaço para todos dançarem no mesmo compasso.
A presença da primeira-dama do Estado e da Secretaria de Turismo (Setur-BA) mostra que o poder público, ao menos em alguns gestos, reconhece que a cultura não pode andar separada dos direitos humanos.
Mas este não foi um feito isolado. Em oito zonas turísticas da Bahia, a tradição se entrelaçou com o povo real: em Monte Santo, quase 20 mil pessoas se reuniram no Arraiá da Aresol, reafirmando os festejos como potência social. Em Ipirá, a memória foi mantida viva no São João Velho Antecipado. Em Mundo Novo, saberes e sabores se uniram em um festival que celebrou a alma do sertão.
Esses eventos carregam um recado profundo: o São João não é só turismo, é território de pertencimento. É onde o menino da roça canta com a sanfona herdada do avô, onde a costureira da zona rural vende vestidos de chita, onde o deficiente físico dança sem ser olhado com piedade, mas com admiração. É onde o povo se reconhece — e resiste.
Em tempos em que o capital transforma cultura em produto, a Bahia reafirma que tradição não é vitrine: é vida em movimento, é comunidade em festa, é fé que atravessa gerações.
"O verdadeiro São João não é o que aparece nos holofotes — é o que aquece o peito de quem nunca deixou de dançar, mesmo quando o mundo parecia não vê-lo."
Foto: Internet
Por Nilson Carvalho – Jornalista, Artista Plástico e Embaixador dos Direitos Humanos
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