Francisco Cuoco: Quando um Ícone Parte, mas a Voz da Cultura Permanece Viva
Francisco Cuoco: Quando um Ícone Parte, mas a Voz da Cultura Permanece Viva

Por Nilson Carvalho — Jornalista, Artista Plástico e Embaixador dos Direitos Humanos
Na manhã desta quinta-feira, 19 de junho, o Brasil perdeu mais do que um ator. Perdemos um símbolo da identidade nacional. Francisco Cuoco, aos 91 anos, despediu-se da vida terrena no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, após semanas de internação. Sua ausência não é apenas física — é emocional, simbólica e cultural.
Cuoco não foi apenas um galã das novelas da chamada "era de ouro" da teledramaturgia brasileira. Foi um artista completo, cuja trajetória revela muito mais do que personagens inesquecíveis. Sua história é, acima de tudo, a narrativa de um Brasil que aprendeu a sonhar através da tela da TV, a buscar dignidade, amor e justiça nos diálogos e olhares de seus personagens.
Filho do Brás, bairro operário de São Paulo, o menino Francisco dividiu sua infância entre as barracas de feira e os sonhos que logo encontrariam palco na Escola de Arte Dramática da USP. Sua formação foi alicerçada na resistência artística, na luta por espaço e no compromisso com uma arte que nunca se distanciou do povo. Cada personagem interpretado por Cuoco foi, em alguma medida, um espelho da alma brasileira — marcada por afetos profundos, contradições intensas e um eterno desejo de superação.
A presença de Francisco Cuoco nas novelas como Selva de Pedra, Pecado Capital e O Astro não foi apenas entretenimento. Foi educação emocional, foi construção de memória coletiva. Ele moldou, com sua arte, imaginários e afetos que hoje habitam gerações. Sua voz rouca, seu olhar penetrante, sua postura firme — tudo em Cuoco gritava por autenticidade.
Mas há um ponto que precisa ser dito, e com urgência: o Brasil precisa cuidar melhor de seus artistas, de seus anciãos, de seus ícones. A morte de Cuoco escancara o silêncio social sobre a velhice, sobre o abandono cultural e sobre a memória viva que se desfaz sem os devidos rituais de valorização.
Francisco Cuoco não partiu apenas como um ator consagrado. Partiu como símbolo de um tempo em que a arte era respeito, e o respeito, um direito humano.
Neste momento de luto e reflexão, que a despedida de Cuoco nos convoque à responsabilidade de celebrar nossos ícones em vida, de garantir dignidade na velhice e de nunca permitir que a cultura brasileira morra em silêncio.
Porque memória não é saudade — é compromisso.
Compartilhe e reflita: se escreva no nosso canal
"Quando um artista parte, leva com ele uma parte da nossa história. Mas o que fazemos com a memória é o que determina o futuro da nossa cultura."
Foto: Internet
Comentários (0)